terça-feira, 7 de março de 2017

*Somos o que somos, ou somos uma construção da sociedade na qual estamos inseridos?


Estou cada vez mais tendenciosa a acreditar que nossa verdadeira essência fica muito longe do que aparentamos ser para nós mesmos. Parece que não há uma certeza imediata, somente depois de muita busca por pura inquietação, é que talvez, possamos perceber que nem tudo que aparentamos ser, somos de fato!!!
Não julgo, nem condeno quem não se permite inquietar-se e questionar-se sobre sua origem existencial, entretanto diante de tantas experiências, não consigo deixar de perceber que utilizamos  inúmeras máscaras para tentar corresponder ao que desejam de nós, ainda que isso nos incomode. Muitas drogas, como a bebida, por exemplo, nos ajuda a anestesiar a pressão social.
Há também os medicamentos adquiridos nas drogarias, como: calmantes e analgésicos mil,  que, de fato, anestesiam nossa realidade de ser. Outras drogas ilícitas, também ajudam a aliviar a dor do não saber quem somos.
Há outros artifícios também que não nos permite questionar nada, talvez seja o mais perigoso, são drogas infalíveis disfarçadas de passatempo, tais como: novelas, programas sensacionalistas, excesso de informação que nos tonteiam, dando-nos a sensação de que estamos bem antenados, entretanto, só ludibriam nossa atenção para uma desinformação subliminar.
Sinto que estamos perdidos!!! Bem longe de nós.  O Ser, o que realmente somos, parece não interessar mais. Busco inúmeras respostas para tentar resgatar minha natureza, aquela que nasci e que durante um pequeno período de vida fui, de fato eu mesma.
O meio influencia muito, a educação que recebemos em casa ou nas comunidades, nas quais fomos inseridos, por nossos responsáveis (familiares) por acreditarem que seria o melhor caminho para nosso desenvolvimento social, ético e moral. Nesse momento é que começo a entender as revoltas de ideais de alguns jovens, que na verdade estão querendo clamar, desesperadamente, que não desejam ser tudo o que foi esperado que eles fossem. Desenvolve-se, então inúmeros conflitos existenciais e de geração. Claro que isso não é regra!!!
É muito ruim ser a projeção do que os pais e a sociedade esperam de nós. A tentativa de corresponder, com certeza, um dia, nos fará adoecer ou nos tornarão pessoas submissas e frustradas. O número de doenças psicossomáticas vêm crescendo assustadoramente, neuroses de todos os tipos, carências afetivas disfarçadas de falsa autoridade, medos, baixa autoestima, entre outras...
Estar só e em silêncio, pode ser um exercício de resgate maravilhoso!
Buscar o ócio criativo também pode ser útil, mas o fato é que a maioria de nós precisa de barulho externo para não escutar o interior e desnudar-se das máscaras existenciais. Não é uma tarefa fácil e indolor, descobri que muitos de nós não passamos de uma construção social e  através dessa conclusão surge um vazio tão profundo que nos deixam perplexos ou angustiados. Mas, acredito que seja o grande sentido da vida, mergulhar em águas profundas para um resgate "homeopático" da verdadeira identidade do nosso EU.
A autenticidade e a permissão desse mergulho no precipício da existência revela muito mais riquezas para nossa vida do que simplesmente representar "personas", no verdadeiro palco, que é a própria vida.
Escolhi como imagem a representação das borboletas, pois acredito, que possamos fazer uma metáfora do caminho de surgimento destas com o nosso desenvolvimento infantil.
Antes de se tornar uma borboleta, era uma espécie acorrentadas num casulo. Para sair desse casulo, assim como sair do conforto do útero é preciso esforço. Dói, dói muito... Mas, de repente, eis que suas asas se desenvolvem, assim como nós seres humanos no nosso desenvolvimento de inúmeras etapas da infância, aí começamos a experimentar uma certa liberdade que, ao meu modo de enxergar, é um lançar-se na vida como o voo das borboletas.
É dessa liberdade, a sensação da descoberta do mundo, através da curiosidade das sensações, engatinhando, caindo e levantando, até atingir um equilíbrio para caminhar sem mais artefatos, que acredito que seja nossa verdadeira essência!!!
E a busca segue...

Vanessa Ribeiro*            

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

*Novo olhar

Estive hibernada em mim. O ano de 2016 foi um enorme desafio existencial, o país expurgando suas dores, a vida um pouco carregada de tantos acontecimentos, pessoas queridas sofrendo e eu em enormes buscas para dar sentido novamente ao existir.
Descobri que a dor liberta e fortalece se temos entendimento, se enxergamos nela uma possibilidade de crescimento pessoal.
Atravessei quedas diversas, cai e levantei muitas vezes. Questionei a mim e ao mundo, chorei mais que sorri.
Eu que tenho o riso solto descobri uma pessoa capaz de tatear os mais profundos esconderijos de minha alma. Lembranças do passado atormentaram meu Ser. Vivências de muita fragilidades, por vezes, tentavam me fazer desistir. Resisti.
Sombras guardadas debaixo do tapete apareceram sem redenção. Deparei-me com lugarejos destroçados e ocultados por meu orgulho e vaidade. Precisei reconhecer diversos aspectos dolorosos para reformular um novo EU. Cada vez mais transparente e autêntico. Difícil caminho de mergulho existencial, quase perdi o fôlego, mas através de muita ajuda, estou aqui. Muito mais inteira do que antes. Mais apta à enfrentar as quedas das armadilhas de uma vida sem garantias.
O agora se torna muito mais agora, sonhos deixei de sonhar, portas precisei fechar, fôlego tive que retomar e junto ao medo, coragem precisei criar.
Não! Não me arrependo de nada, nem das dores. As amizades sinceras banharam meus momentos de alegria. Algumas pessoas deixei partir e novas deixei chegar. Movimento constante de reforma íntima e necessária para crescer e viver inteira, cada vez mais inteira.
Silenciei diversas vezes por falta do que expressar, escondi-me em meus pensamentos e sentimentos mais profundos, mergulhei no meu olhar interno. Revoltas precisei enfrentar, nem sempre a doçura prevalece em lutas tão profundas. Percebi minha pequenez diante ao mundo, ao universo vasto e complexo. Porém percebi o universo que havia em mim. Pirei!!!
Compreendi que o caminho é mais longo do que imaginava, as máscaras caíram uma a uma e fui descobrindo-me incompleta, dona das minhas próprias escolhas, responsável pelas ruas que decidia caminhar. Não conseguia mais voltar para trás, precisei seguir confiante que em algum momento chegaria em algum lugar.
Ilusões caíram por terra. Nitidez se fez presente, nem sempre olhar para dentro é confortável. Ao redor conflitos mil. Como ficar incólume a dor alheia? Acreditava ser impossível.
Quando, de repente percebi que me confundia na dor do outro, parei e decidi: Não posso viver o que não me pertence. Solidária, sim, posso continuar. Mas sentir a dor alheia é egoísmo com o outro, não acreditar que o outro é capaz de suportar. Quanta vaidade!!! Quanta pretensão!!!        
Contudo surgiu um novo olhar, mais real, mais palpável, mais possível.
Chega de só idealizar!
Lutar para colocar em prática é sonhar com os pés no chão e com possibilidades reais de concretizar. Os sonhos são mais lúcidos. Tornei-me mulher guerreira. Arranquei forças das minhas entranhas para continuar. Agradeço a oportunidade de sempre questionar e querer mais, porque tudo, às vezes é pouco demais. Testei meus limites, coloquei-me a prova, fiz em mim um lugar de repouso para minha alma mesmo tendo consciência de que o caminho de autoconhecimento é solitário demais.
Que esse ano eu consiga colher os frutos das minhas descobertas.
Se estou frustrada? Nunca, jamais.
Sinto-me grata.

Simplesmente Vanessa*