sexta-feira, 24 de julho de 2015

O despertar...*

Nada, absolutamente nada vai me fazer retroceder o caminho que percorri, sofri, amei, briguei e muitas vezes chorei. Só penso em olhar para frente, ainda que com um aperto no centro do peito tenha vontade de parar. Nada, nada me fará desistir desse caminho de busca escolhido por mim, nem dores, nem desânimo, nem medos. Nada! Eu cheguei até aqui e ainda que eu morra de tanto chorar, curarei essa ferida aberta e purulenta que venho cultivando há tempos.
Chega de reclamar de meus tropeços, tenho o direito de tropeçar. Todos temos esse direito!!! Chega de tanta cobrança e autocrítica por uma vida linear, sem obstáculos, curvas, erros. Chega de querer ser a expectativa alheia para merecer migalha de algum sentimento.
Mas, nada, nada mesmo me fará voltar. Seguirei daqui, olharei vagamente para traz somente para admirar minha caminhada, sem críticas, sem menos ou mais. Luto, lutei e continuarei a lutar por minha vontade de ser feliz num mundo em que a felicidade parece impossível, utópica. A sensação que tenho é que as pessoas felizes, verdadeiramente, são tachadas de ignorantes! Quanto preconceito agendado em minha mente. A vida me fez assim e talvez eu tenha aceitado essa construção sem questionar.
Ignorância é não tentar buscar a felicidade, é ser uma vítima eterna do sofrimento que a existência por muitas vezes nos apresenta. Ninguém está imune ao sofrimento. Tristezas, angústias, dores existenciais são normais e saudáveis, mas a falta de felicidade é uma vida vivida pela metade.  Apesar de saber ou intuir que a completude não é dessa vida.
Sei que ainda terei muito medo, pararei para respirar e tentar perceber que apesar da imensidão do universo nunca estaremos totalmente desamparados. Eu já consigo enxergar, vagamente, um caminho a ser percorrido nessa nova fase da minha existência. Andei por tanto tempo imersa em mim mesma que o externo está mais vibrante, clareou. Precisei passar por muitas desconstruções, desagendei muitas crenças ultrapassadas para trazer mais de mim para meu centro existencial. Só agora, depois dessa imersão, posso compreender o porquê da necessidade de abrir caminho para a dor passar, e, passa!!! Aliás, tudo passa.
O sofrimento poderá ser uma fonte fecunda de aprendizado e de humanização. A sensibilidade com as circunstâncias ao redor fica mais ativa e viva. E já nem quero mais me livrar da minha sensibilidade, partindo do pressuposto, que sou também essa sensibilidade.
A sociedade, em geral, com raras exceções, ainda não está preparada para lidar com pessoas tão profundas no sentir e no expressar esse sentimento, não importa se o sentir é positivo ou negativo. O fato é que pouco se valoriza as questões da alma. Somente o que é visível aos olhos costuma ganhar um maior destaque, entretanto, sinto que alguns já perceberam que o sentido da vida não pode ser simplesmente viver por viver. Há uma intenção em cada vida existente, ainda que eu não saiba qual seja, tenho uma quase certeza de que o habitar nesse planeta não é um passeio sem encontros, desencontros, conflitos, indecisões, um mero acaso, é algo muito maior que nossa inteligência e raciocínio lógico ainda não são capazes de compreender em sua totalidade.
*Vanessa Ribeiro
Professora, dançarina, atriz e filósofa clínica...   

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