terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Humana, simplesmente humana...*


Sinto, sinto muito mesmo, mas sou demasiadamente humana. Sei que Nietzsche compreenderia, mas eu não consigo compreender tamanha fraqueza que há na minha porção humana.
Apesar das buscas incessantes, apesar das compreensões espirituais, apesar dos pesares da dor alheia ainda sou humana demais. 
Medos e sombras torturam meu ser consumindo o pouco de espiritual que há em mim, impotência diante de questões que parecem tão simples, entretanto para uma alma arredia como a minha se tornam monstros na escuridão da minha caminhada solitária e livre.
Ah! Livre arbítrio! Por que não ser conduzida por um destino traçado onde minhas escolhas façam algum sentido? Por que tamanha liberdade de escolha? Eu queria ser perfeita, juro, mas não sou, nem chego perto... 
Uma encruzilhada percorre minha mente e eu alucino e entorpeço por não saber por onde seguir. Dores de alma e de consciência pesam nos meus ombros que tentam desesperadamente carregar o mundo que me rodeia. Quanta pretensão a minha!!!
Controlar?

Ninguém controla nada. 
E a luz que ainda brilha escondida por trás das minhas entranhas teima em aparecer. Entretanto resisto e torturo um pouco mais minha alma sedenta de paz.
As lágrimas tendem a descer para que eu me sinta mais humana e imperfeita. Como ainda sou profana!
No jogo louco da vida, sensações escorrem por meus poros, trazendo sempre à memória o tamanho da minha pequenez nessa vida tão breve. Tento seguir os ensinamentos dos grandes mestres, mas, me deparo com minhas sombras de culpa e medo. Sintomas de fracasso diante da tão procurada virtude, aclamada e exaltada por grandes filósofos ilustres, sobressaem. 
Talvez, somente Nietzsche, tenha razão.  
Eu preciso de paz, preciso de mais, mais amor próprio, mais perdão por mim e por todos, mais aceitação dessa singularidade tão complexa que se apresenta a cada minuto para mim. Nua e crua.
Aceitação! Eis a grande questão. Eu sempre perdendo o caminho e buscando alguma identificação. Pois identificar-se com um alguém que parece ser mais evoluído é menos doloroso do que enxergar todas as mazelas que uma alma humana, demasiadamente humana, possui. E me perco na esperança de um dia tornar a me encontrar em algum beco, alguma rua, ainda que sombria, simplesmente me encontrar. E aí lembro-me de uma canção, peço ao Pai proteção, junto todas as minhas crenças pessoais para ancorar meu coração sequioso de mansidão. E cada vez mais sedenta vou caminhando em direção de mais um questionamento. 
Penso nas mulheres oprimidas por suas crenças religiosas e me identifico com um agendamento que me foi incutido ainda muito menina. "Olha! Deus castiga!"
Isso! É preciso ser uma boa menina. 
Uma moça correta!
Uma pessoa caridosa e feliz. Assim é que deve ser!
Eis que a menina cresce e descobre que nem sempre será uma boa menina, percebe sua perversidade e se assusta. 
Não, não, não!!! É preciso ser boa e caridosa, e ainda feliz.
O mundo desaba então!
O sofrimento da verdadeira realidade invade sua essência e ela não se adapta ao padrão agendado. Surge, então, as mais diversas perturbações existenciais. Depressão, medo, culpa, neuroses, viroses emocionais das mais diversas. Ela se sente inadequada. 
Muito perdida!!! Então ela dança para não pensar que é tão diferente de tudo o que foi projetado para ela. 
Distrai seu pensamento trabalhando ferozmente e mente para si. Sim, a menina-mulher mente. 
Profana, é o que ela é! 
Só as vezes, muito raramente, ela encontra sua lucidez e reflete sobre sua fraqueza. E, ainda raramente, aceita com delicadeza cada uma de suas imperfeições. Nesses momentos ela transborda e escreve, compartilha, desnuda-se para o mundo que a cerca! 

Finalmente, inspira e expira aliviadamente!!!

*Vanessa Ribeiro 
Professora, atriz, dançarina e filosofa clínica. 
Petrópolis/RJ

2 comentários:

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    1. Eu que agradeço seus comentários cheios de gentileza... Sinta-se a vontade!!!

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