segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

A Filosofia Clínica na minha vida...*

Andei questionando que papel o estudo da filosofia clínica tem cumprido em minha vida e cheguei a inúmeras conclusões. Sou habilitada para a pesquisa dentro da filosofia clínica pois ainda não conclui meu pré-estágio terapêutico. Aliás, não tenho pressa em continuar, tendo em vista, os ganhos que tive com esse estudo.

A filosofia clínica abriu meu conhecimento de mim mesma. E creio que esse deva ser o primeiro passo para as pessoas que pretendem atender outras pessoas. Antes da filosofia clínica em minha vida eu escrevia e simplesmente detestava tudo o que escrevia. Mas, sempre gostei de me expressar pela escrita. Meu professor e filósofo clínico Hélio percebeu isso, essa minha singularidade. Eu não só fui incentivada por esse mestre-amigo, mas também, fui descoberta como um ser que necessita expurgar pela escrita as dúvidas da existência e as dores de existir.

Desagendei muito durante meu processo. Cresci como ser humano, me desnudei de complexos e recatos. Sou mais coerente comigo mesma. Descobri que sou expressão pura e profundamente reflexiva e questionadora. Hoje eu consigo aceitar um pouco melhor minha singularidade, percebo que não há tanta necessidade de me identificar, porque descobri que nenhum ser é igual a outro.

A coisa mais linda dessa abordagem terapêutica é a questão da importância da singularidade. Sim!!! Não podemos tratar uma pessoa com pré-juízos. Não existe classificação. Somos únicos. Isso é lindo demais!!! E, se somos únicos, não deveríamos julgar tanto como o outro se apresenta dentro dos inúmeros papéis existenciais que a vida o apresenta. Digo não deveríamos pois ainda exercito essa "suspensão de juízo" tão presente na história da filosofia antiga.

O processo autogênico que o estudo da filosofia clínica cumpre em minha existência, é por si só, capaz de responder o porquê de estudar tanto essa abordagem terapêutica. O "ser-terapeuta" é apenas um detalhe para a vida do filósofo clínico. Claro que é um detalhe muito importante e necessário. Entretanto não é o que há de maior valia na filosofia clínica. O método é muito bem estruturado, cada detalhe dos exames categoriais deve ser muito bem pesquisado. Por isso é muito importante fazer terapia antes de ser um terapeuta. Somente alargando o pensamento a respeito de mim mesma poderei ter um olhar mais humano e humilde para a historicidade do outro.

Quem tem o dom de cuidar, certamente, se identificará com a filosofia clínica. Cuidar não é simplesmente escutar e aplicar o método desenvolvido por Lúcio Packter, é muito mais que tudo isso. Cuidar é amar a vida do outro tendo consciência de que grande parte das pessoas que procura um profissional terapeuta está em processo de crise, sofrimento! Sem essa consciência não haverá êxito no processo de terapia com essa abordagem tão singular.

É necessário muita cautela antes de um filósofo clínico iniciar o papel de terapeuta. É necessário muito amor, carinho e dedicação! Temos que nos conscientizar que isso não é uma tarefa assim tão simples. Para muitos, até pode ser simples, entretanto, para outros o "ser-terapeuta" pode ser muito perigoso.

Hoje consigo entender as palavras do professor Hélio Strassburger ao dizer que é um "homem do mundo". O ser-terapeuta é quase um sacerdócio! Uma renúncia de parte de si para a partilha com o outro. Creio que só com esse pensamento poderemos um dia desempenhar papel tão significativo que é o de terapeuta filosófico.

*Vanessa Ribeiro
Professora, atriz, dançarina e filósofa clínica.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

O poder das palavras...*

Existem palavras caras, outras baratas, outras bonitas e outras sem graça. A palavra "graça" não tem a menor graça! É vazia, fria, triste... Já a palavra "triste" é pomposa,
forte, elegante, robusta! Sinto até vontade de falar... Oh! Que triste dia...

A palavra "alegria" em compensação traz muita satisfação, não sei se pela pronúncia ou por sua vibração. O que sei, que no campo do saber é quase nada, são que existem palavras que são mais belas e sofisticadas que outras e que por isso costumam ser expressadas.

Entretanto, eu procuro me certificar de todas as palavras utilizadas por mim, pois um simples "oi" pode ter vários significados.

E, como significamos as coisas!!!

Percebo que uma mesma palavra proferida por mim pode ter um significado totalmente invertido ou truncado para um outro...
Amo muito todas as palavras, são elas que preenchem meu vazio quando nada mais vale por perto.
Eu escrevo e relaxo...

É muito bom poder expressar sentimentos confusos através da escrita, lendo mais tarde àquilo que escrevemos perceberemos onde estavam nossos pensamentos. Muitas vezes percebo que os meus estavam em longo deslocamento.

E quantos termos desagendo do meu intelecto apenas escrevendo? São tantos quantas são as palavras existentes para expressar minha gratidão!

E, viva as palavras! Pois primeiro se fez o verbo...

Brindemos, então, a possibilidade da expressão! Viva!!!

*Vanessa Ribeiro
Professora, atriz, dançarina e filósofa clínica.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Dançar para fluir no mundo*

Voltei para casa ontem à noite e durante a noite fria questionava o porquê da dança na minha vida. Descobri que cada vez que eu me movimento e sinto a energia de cada alongamento para preparar-me para a aula de dança vou despertando minhas células para a vida. Me sinto vibrante e viva quando danço!
Talvez eu nem consiga mais parar de dançar nessa existência, vício que tanto me ilumina a alma! Gratidão por esse encontro tão profundo com o movimento. Minha intersecção com a dança tem sido muito construtiva e reveladoramente positiva.

Andando pela cidade percebi a beleza de poder expressar felicidade pelo suor do movimento coreografado! Marcado! Preciso! Muitas vezes repetidos e ensaiados! Quase parece improvisado, mas não! Muita transpiração para aproximar-me da perfeição.

De repente, percebi que estava perto de casa e olhei para alguns rostos ao redor. Observei que tantas são as questões que nem mesmo se minha bola de cristal não estivesse quebrado não conseguiria, de fato, desvendar cada expressão daqueles rostos passantes.

Imagino que cada ser deva ter, ainda que escondida, uma paixão. Eu só imagino.

Ideias complexas começam a me rodear, pois sem paixão não consigo nem pensar. Apática nem vejo a cor da vida. Mas isso é como o mundo me parece. Será que posso imaginar que o parecer de mundo dentro da minha representação é semelhante para todos os seres viventes? Será que existe, de fato, singularidades na representação de mundo para cada ser humano, tanto quanto a quantidade representações existentes? Ou será que bem de perto somos todos muito parecidos? Existe tanta diferença na minha alegria ou na minha dor quanto a de uma irmã que vive do outro lado do mundo? O que me separa de alguém? O que me faz ser tão humana quanto qualquer ser humano, ainda que num caminho que eu considere errante? Será que existe um manual de certezas?

Bem, são apenas divagações. Mas eu acredito fortemente que só quem experimenta o movimento de qualquer forma de expressão pode sentir a beleza dos desbloqueios que somatizamos durante anos na existência nesse louco planeta chamado Terra.
E viva a dança!!!
*Vanessa Ribeiro
Professora, atriz, dançarina e filósofa clínica.
Petrópolis/RJ

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Melancolia!*


Há uma melancolia salutar no meu ser. Não a destrutiva que deprime e oprime, mas aquela reflexiva, da sensibilidade de quem sente compaixão pelo outro, pela dor do outro e identifica a fragilidade nas pequenas expressões diárias, nos gestos mais comuns e minuciosos.

Essa melancolia arranca pequenas lágrimas dos meus olhos, seja na mais profunda sensação de vazio ou de completude! Sinto a cada dia que não preciso mais mascarar-me para melhor ser percebida e compreendida, pois, por mais que eu sinta, por causa do meu ego, que queira agradar multidões, jamais agradarei. Isso me faz tão bem!!! Na verdade não tenho mais a necessidade de agradar a ninguém, nem a mim mesmo.

A obrigação do sorriso diário saiu da minha representação de mundo... Vivo melhor e cada vez mais transparente nesse mundo de teres e poucos saberes. Daqui para frente pretendo SER a cada palavra proferida, a cada gesto expressado, a cada movimento dançado!

É justamente essa melancolia que traz para mim os questionamentos e as mais profundas reflexões. Sim! Sem sofrimento! Só pequena melancolia...

Sou mais mulher e menos moça sonhadora a cada deslocamento, longo ou curto. E, por mais estranho que possa parecer, estou mais feliz assim. Concretizar também faz parte do meu processo, sem histórias de princesas encantadas, moças salvas por um príncipe. Sou muito mais guerreira hoje. Estou mais feiticeira, faceira e dona dos meus caminhos! Sem rumo, entretanto, com minha bússola interna ativada, viva!

Se quero partir, simplesmente parto, não olho mais para trás. Tudo o que passou já não é mais. Eu vivo cada vez mais o agora, o hoje, o aqui. E o futuro???

Não tenho pensado no futuro porque sei que é resultado do plantio do hoje... Simples e descomplicada, sinto-me no momento. Vivo em constante mudança!!! Amo o movimento transformador, descobridor dos meus segredos íntimos que se revelam claramente para meu verdadeiro EU.

E assim sendo e vivendo procuro suspender cada vez mais o juízo e observo o mundo ao redor. Sinto o cheiro e o vento da noite estrelada. Durmo o sono daquela que merece repousar com os anjos e os querubins, acordo purificada, iluminada, disposta a continuar aprendendo a vida a partir do outro e para representar-me pelo outro e junto do outro.

Aprendi, nessa minha longa pequena caminhada, que todos nós, seres humanos, dependemos de nós e do outro para construir o mundo particular, singular... E isso não é palavra, nem grande constatação, é expansão de consciência, é busca, é luta para compreender essa engrenagem confusa e muitas vezes sem a menor lógica chamada: vida.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Expressão!*

Livre movimento do corpo em ação guiado por várias emoções... Contração, expansão, vida ativa em reação ao belo e para o belo no seu mais sublime conceito. Respiração ativa e sensações à flor da pele.
Bum! Grande sentimento que se encontra através de uma catarse daquele que vive por amor a arte. 

Maravilhas, sofrimentos, descontentamentos, solidão, percepção a cada deslocamento, longo ou curto!
Permitir-se!

Solução para uma melhor compreensão de si e do todo! Vida voando com o coração pulsante e inquieto para melhor decifrar tamanho sentido de todas as coisas sensíveis e metafísicas. Explicações??? Não! Não temos essa intenção...

Queremos arte para suportar a existência nua, vazia, brutal. Sem arte não conseguiremos seguir a diante. Tudo se torna meio bege, sem tom. E a canção poderá ser uma grande fonte de inspiração para muita piração consciente e equilibrada!

Palavras, as guardo no coração. Só o ato de expressar poderá satisfazer tamanha confusão de sentidos sem significados definidos.

Poesia? Também não. Apenas vontade de somente ser nesse mundo cheio de ter. Ideias muito complexas pairam na mente de quem vive por amor ao ato de se mostrar, se desnudar. Transparência nos contornos dos movimentos improvisados. Vida. Paixão. Luz. Ilusão!!!

Desejos escondidos na alma vão se esvaindo em tamanha transpiração... Tentação, vontade, necessidade, verdade.

A vida que escolhi e colhi até então!!! Será preciso mudar o curso do rio? Ou viver nesse universo particular é mais belo que as questões conflitantes e perturbadoras da minha alma? 

Sei não! Por enquanto é o que tenho, esse castelo eu mesma construí em pedras firmes e no chão da casa do meu espírito criativo.
Vulcão quase em ebulição!

Eu sou esse vulcão, mas meus segredos? Não conto, não.

*Vanessa Ribeiro 
Professora, atriz, dançarina e filosofa clínica. 
Petrópolis/RJ

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Humana, simplesmente humana...*


Sinto, sinto muito mesmo, mas sou demasiadamente humana. Sei que Nietzsche compreenderia, mas eu não consigo compreender tamanha fraqueza que há na minha porção humana.
Apesar das buscas incessantes, apesar das compreensões espirituais, apesar dos pesares da dor alheia ainda sou humana demais. 
Medos e sombras torturam meu ser consumindo o pouco de espiritual que há em mim, impotência diante de questões que parecem tão simples, entretanto para uma alma arredia como a minha se tornam monstros na escuridão da minha caminhada solitária e livre.
Ah! Livre arbítrio! Por que não ser conduzida por um destino traçado onde minhas escolhas façam algum sentido? Por que tamanha liberdade de escolha? Eu queria ser perfeita, juro, mas não sou, nem chego perto... 
Uma encruzilhada percorre minha mente e eu alucino e entorpeço por não saber por onde seguir. Dores de alma e de consciência pesam nos meus ombros que tentam desesperadamente carregar o mundo que me rodeia. Quanta pretensão a minha!!!
Controlar?

Ninguém controla nada. 
E a luz que ainda brilha escondida por trás das minhas entranhas teima em aparecer. Entretanto resisto e torturo um pouco mais minha alma sedenta de paz.
As lágrimas tendem a descer para que eu me sinta mais humana e imperfeita. Como ainda sou profana!
No jogo louco da vida, sensações escorrem por meus poros, trazendo sempre à memória o tamanho da minha pequenez nessa vida tão breve. Tento seguir os ensinamentos dos grandes mestres, mas, me deparo com minhas sombras de culpa e medo. Sintomas de fracasso diante da tão procurada virtude, aclamada e exaltada por grandes filósofos ilustres, sobressaem. 
Talvez, somente Nietzsche, tenha razão.  
Eu preciso de paz, preciso de mais, mais amor próprio, mais perdão por mim e por todos, mais aceitação dessa singularidade tão complexa que se apresenta a cada minuto para mim. Nua e crua.
Aceitação! Eis a grande questão. Eu sempre perdendo o caminho e buscando alguma identificação. Pois identificar-se com um alguém que parece ser mais evoluído é menos doloroso do que enxergar todas as mazelas que uma alma humana, demasiadamente humana, possui. E me perco na esperança de um dia tornar a me encontrar em algum beco, alguma rua, ainda que sombria, simplesmente me encontrar. E aí lembro-me de uma canção, peço ao Pai proteção, junto todas as minhas crenças pessoais para ancorar meu coração sequioso de mansidão. E cada vez mais sedenta vou caminhando em direção de mais um questionamento. 
Penso nas mulheres oprimidas por suas crenças religiosas e me identifico com um agendamento que me foi incutido ainda muito menina. "Olha! Deus castiga!"
Isso! É preciso ser uma boa menina. 
Uma moça correta!
Uma pessoa caridosa e feliz. Assim é que deve ser!
Eis que a menina cresce e descobre que nem sempre será uma boa menina, percebe sua perversidade e se assusta. 
Não, não, não!!! É preciso ser boa e caridosa, e ainda feliz.
O mundo desaba então!
O sofrimento da verdadeira realidade invade sua essência e ela não se adapta ao padrão agendado. Surge, então, as mais diversas perturbações existenciais. Depressão, medo, culpa, neuroses, viroses emocionais das mais diversas. Ela se sente inadequada. 
Muito perdida!!! Então ela dança para não pensar que é tão diferente de tudo o que foi projetado para ela. 
Distrai seu pensamento trabalhando ferozmente e mente para si. Sim, a menina-mulher mente. 
Profana, é o que ela é! 
Só as vezes, muito raramente, ela encontra sua lucidez e reflete sobre sua fraqueza. E, ainda raramente, aceita com delicadeza cada uma de suas imperfeições. Nesses momentos ela transborda e escreve, compartilha, desnuda-se para o mundo que a cerca! 

Finalmente, inspira e expira aliviadamente!!!

*Vanessa Ribeiro 
Professora, atriz, dançarina e filosofa clínica. 
Petrópolis/RJ

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Mulher: Substantivo feminino...*

Nem sempre contente com a realização de um grande dia, muito inconstante e dores diferentes. 
De repente o peito aperta e então ela pensa se é por causa dos hormônios ou do inchaço da última menstruação!
Chega a diversas conclusões sem solução, aí, eis que lágrimas correm desassossegadas por sua face e ela escreve e escreve sem parar como numa neurose incansável. Ela sabe que já é madrugada e que deveria ter lido um pouco antes de dormir, surgem culpas e pensamentos desordenados enquanto ela está cansada de ter que arrumar tempo para viver uma vida contemporânea. Estar arrumada, trabalhar, namorar, 
ser bonita a todo momento, gentil e afetuosa... 
Porém,
Soa um grito de dor! Porta do quarto fechada e o coração sufocado de tanto representar a "mulher ideal", perfeita sem uma gota de insatisfação! Não, não mesmo! Não foi por isso que ela lutou séculos e séculos. Ela só pretendia ser uma pessoa, entendam, uma pessoa como outra qualquer... Era só! Mas aí vieram os silicones, as revistas cheias de perfeitas mulheres e detalhe: Todas felizes! Ela não suportou tamanha pressão social e criou um casulo só seu, inacessível, trancado. 
Entretanto, vez por outra, ela dança e aí surge alma nessa pessoa que queria ser e ela percebe que a dança também se tornou uma grande aliada, uma obsessão!!! Mas quando movimenta o corpo a alma é elevada a nível tão profundo que nem a droga mais poderosa do momento seria capaz de lhe dar tamanho prazer. 
Sua vida se torna poesia e o inchaço já nem incomoda tanto, as dores musculares são recompensadas pelo ganho do movimento esperado. Sua filosofia, outra paixão, pode esperar até o dia seguinte, o livro não vai sair do lugar e então, realizada, as leituras terão outro tom, outro sabor, outro saber. 
E uma coisa eu garanto, sexo frágil ela não é não! Essa época já se foi! Ela sabe bem o que quer. Conquistou o mundo e pretende dominá-lo, seduzi-lo com movimentos no corpo, no cérebro, na alma e no coração! Sim! Mulher, eu sou e amo muito esse estado de ser. 

*Vanessa Ribeiro 

Professora, atriz, dançarina e filosofa clínica. 
Petrópolis/RJ