quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Que em 2016 haja mais delicadeza...*

31 de dezembro de 2015! Como dizem os contadores do tempo, último dia do ano, portanto, amanhã será um grande dia: 01 de janeiro de 2016! Primeiro dia do ano de 2016...
Eu gosto desse rito de passagem, escolher uma bela roupa, esperar a contagem regressiva, imaginar como foi meu 2015, que por sinal foi um ano com muitos desafios. Ufa! Venci. E esperar dias melhores e com mais delicadeza em 2016. É, entre tantos desejos que tenho para 2016, o que mais me toca nesse momento, é a delicadeza!!!
A delicadeza me agrada;
O toque delicado, palavras delicadas, abraços delicados...
Sinto uma profunda necessidade de delicadeza entre as pessoas. Relações delicadas me agradam. Vida delicada me agrada. Conversas delicadas são necessárias, pois viver é muito delicado.
Talvez haja em mim muita delicadeza reprimida por diversas situações difíceis que a vida apresenta para cada um em suas curvas fechadas. Pelo excesso de compromisso do dia a dia... Como acumulamos afazeres! Ufa! Estou de férias e ainda assim, por vezes sinto que estou atarefada. Como temos dificuldades em simplesmente viver...
Isso!!!
O andar delicado me agrada, o cheiro delicado. As pessoas delicadas despertam o melhor que há em mim, porque a delicadeza acalma, alimenta e conforta a inquietação de uma alma existencialista.
Talvez seja a delicadeza o ingrediente que complemente o amor trazendo paz e harmonia aos corações sequiosos de acolhimento.
E, a delicadeza faz da existência um lugar melhor.
A delicadeza realmente me encanta!!!
Já que o momento é de passagem, eu só peço um pouco mais de delicadeza para lidar com o semelhante-singular, para entender o silêncio do outro, para usar as palavras corretas, para viver em paz, num mundo onde precisamos de paz para seguir caminhantes pelos becos da existência.
Que todos sejam tocados pela delicadeza das flores e pela delicadeza do Belo.
Que a vida se apresente com mais delicadeza para uma maior ordem e harmonia, e, se mesmo assim a rudeza atravessar meu caminho, que eu tenha a calma e a delicadeza de recebê-la!!!!
Que venha 2016 repleto de delicadezas para mim e para você.

*Vanessa S R
Professora de filosofia, filósofa clínica, atriz, dançarina e sonhadora.      

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

* Conhecereis a verdade...

 Conhecereis a verdade...

Disse Jesus: - Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará. E eu digo: - Conhecereis a verdade e o mito da sua existência se revelará e muito do que você sustentava como sua historicidade morrerá.
2015!!! Ano de muitas provações em minha vida, dores existenciais, limpezas emocionais, perda de uma amiga querida e depois perda de uma colega de faculdade.
Oh! Existir... Quão doloroso para uma alma sequiosa de respostas, questionadora constante, buscadora da verdade.
E, de tanto buscar... A verdade começa a se revelar de forma nua e sem nenhum pudor, avassaladora, sem dó ou delicadeza.
Mesmo assim, por maior que sejam as decepções e as idealizações, prefiro a verdade. E concordo com o mestre amado de que é a única verdadeira forma de libertação.
A ingenuidade da menina-moça-mulher cai por terra e surge uma mulher mais madura e mais questionadora. O meu castelo encantado desmoronou, descobri de forma dura e nada poética que o ser humano é demasiadamente humano, assim como eu. A Alice acordou!!! Sonhar é muito bom mas é preciso de concretude e alicerce para não cair num precipício sem fundo, nisso o ser amado me amparou e minha terapia me orientou.
Joguei minha bússola fora, sigo minha intuição, busco orientação com as estrelas e com o silêncio do momento presente. A lua faz meu mundo existencial mais coerente e mais harmônico com minha feminilidade. A dança foi uma das minhas salvações para tantas dores e rachaduras mentais. O trabalho, um grande aliado para manter minha mente mais razão, menos emoção, embora eu transborde sensibilidade, aprendi e aprendo a cada dia que é preciso canalizá-la no momento certo. As lágrimas foram minhas grandes aliadas para que meus sorrisos continuassem verdadeiros, solares. O amor daqueles que me querem bem me salvou das amarras da morte de mim.
Descobri o quão importante é não temer viver o luto, faz parte do processo de digestão emocional. Aprendi que a vida é cheia de surpresas e que o agora é nossa única certeza! Não, não me arrependo de nada. Parafraseando Edith Piaf!!!
Superei monstros e naveguei pela escuridão dos mares da vida, através da verdade pude entender mais minha singularidade, não que já tenha entendido tudo, isso ainda levará um bom longo tempo de conversas sinceras, busca interna e sessões de terapia.
Bem, o fato é que sobrevivi, andei sumida daqui, e, de vários outros lugares. Entretanto, sinto-me muito mais forte do que antes dessa tempestade interna.
É preciso coragem para esmiuçar sua historicidade, encontram-se monstros e belas fadas. Nunca podemos esquecer da dualidade constante que faz parte da natureza humana. A fé me faz continuar e razão me estimula a conhecer mais e mais...
Que venha um 2016 com paz, luz, saúde, harmonia, prosperidade e acima de tudo com VERDADE. É a única forma que minha singularidade se liberta.



*Para a amada amiga Lee Moreira de Carvalho, deixo meu agradecimento por tê-la conhecido e aprendido a ser mais forte. Nossas conversas do "mensager" não consegui apagá-las, pois foram conversas com confissões e com muito querer bem de uma com a outra!!! Sempre te amarei e te guardarei em meu coração.
*Para Denise Neto, professora de filosofia, que foi uma colega de faculdade e se foi tão cedo, deixo meu carinho e gratidão por ter sido tão amada por seus alunos e por mostrar que a filosofia pode ser uma grande aliada. Obrigada por ter enriquecido nossa profissão!

O momento de luto está acabando e o sol voltará a brilhar no meu coração.

Vanessa S.R*
Professora de filosofia, atriz, dançarina e professora particular.        









quinta-feira, 24 de setembro de 2015

*As aparências enganam?

Ando caminhando pelas ruas fingindo sorrisos para disfarçar lágrimas que molham meu olhar. Finjo que tudo vai bem e que meu coração está em contentamento, mas será? Será que existe uma fórmula para saber o que realmente passa nos corações sequiosos de paz, luz, silêncio...
E, eu, que sempre fui tão barulhenta, que tenho a gargalhada solta, tenho preferido recolhimento e silêncio. Até um simples cumprimento me deixa irritada. Ah! Se eu pudesse fazer voto de silêncio por uma semana? Como seria agradável não responder: - tudo bem. Coisa mais desagradável é quando você está no auge do mau humor e chega um simpático indivíduo e te pergunta se está tudo bem. A vontade que tenho nesses momentos é de gritar bem alto para assustar a criatura, mas, como? O que pensariam da bela moça com esses modos histéricos no meio da rua? E, as línguas maldosas!!!
Estou farta de representar o papel da boazinha e educada para agradar algumas pessoinhas... Que tédio ter que responder ou dizer todo dia: "Bom Dia!!!"
E, na minha caminhada solitária continuo tentando encontrar colorido ou algo para preencher o vazio que transborda em lágrimas nas minhas noites insones. Sinto como se meu punhal cigano estivesse fincado no centro do meu peito e que a dor do sangue derramado nunca terá fim.
E, mais uma vez, lá vem "o senso comum": "Você brigou com alguém?" " Por que está triste se o dia está tão bonito?" " Aconteceu alguma coisa?"
" Não chore"... blá, blá blá...
Odeio perguntas!!! Odeio justificativas óbvias. Por que a vida teria que ter tanta obviedade. Quanta falta de criatividade!!! Af, ando muito cansada de explicar muitas coisas, de tentar minimizar a ignorância alheia em relação ao meu sentir. Quero paz pra sentir o que quiser. Quero paz para sentir raiva, paz para sentir culpa, paz para sentir tristeza.
Na verdade eu quero é paz!
Mas a caminhada de cada dia não pode parar, tudo deve estar em perfeita harmonia e ordem e se por ventura escapar uma lágrima, uminha só. Seque e siga engolindo a hipocrisia de cada dia.
E, eu?
Estou bem, obrigada.
Vanessa.
(alguém que sente)*   

sábado, 22 de agosto de 2015

*O inverno da alma...

Percebo a cada dia, um frio que sai de dentro do meu coração, sequioso por sol. O calor aquece a alma dolorida e recupera a caminhada cansativa de cada dia. Estive hibernada em mim durante muito tempo. Precisei entender processos escondidos dentro de um compartimento secreto que só foi possível acessar depois de muita dor e sofrimento.
Não gosto do inverno e confesso que quando sinto que ele está indo para longe trazendo a primavera, meu coração se enche de flores perfumadas de plenitude. Moro na serra de Petrópolis, onde há dias cinza e de nevoeiro. As tardes são úmidas e frias nessa estação temida por quem se encolhe e se esconde debaixo de várias peles para aquecer o corpo e o coração.
Olho pela janela do meu quarto e vejo o céu. Isso me anima. Como o céu de inverno é bonito!!! Quase romântico. A lua sempre exuberante me lembra vida ainda existente em algum lugar perto ou distante de meus pensamentos que caminham em direção ao nada e à melancolia. Volto para dentro do meu mais profundo Ser e sinto vontade de chorar. A sensação de prisão aumenta, quase não consigo respirar de tanta angústia e vazio no centro do meu peito. Sei que é só um momento casulo e que em breve a libertação da beleza da borboleta metamorfoseada em gargalhadas chegará, então, meus olhos úmidos de tanto chorar secarão e voltarei a senti-lo brilhar diante da beleza ensolarada e quase quente da primavera.
Depois das flores se abre em meu caminho a esperança do verão! O calor aquece minha escuridão e quebra minha geleira interior. Tudo parece mais claro no verão. Há uma leveza agradável no vestir livre e descontraído, as peles diminuem e o balanço do meu andar se alarga e acalma meu coração. Expansão! Explosão! Erupção esperada e desejada por longos dias de alma gelada, quase morta, pálida. A cor de saúde começa a aparecer nas ruas e nas peles desbotadas de inverno dos passantes nas calçadas. A vida se engrandece e a minha gratidão se aquece ao sol de um quase verão.
Tudo aquilo que era dramático e apático no inverno recomeça tomando uma forma de vida cheia de esperança. Os pássaros cantam! A natureza se alegra e a vida recomeça para meu existir verdadeiro. Meus poros se abrem para as gotas salgadas do suor merecido depois de uma aula de dança. O banho no corpo desce pelo ralo levando e lavando as tristezas esquecidas no inverno. O amor é mais rico e meu corpo pede troca de mais calor. As gotas de suor dos poros sedentos se misturam ao ser amado e tudo se torna uma alquimia perfeita de muito contentamento...
Começa uma nova fase em minha alma: o verão.
Nessa fase a dor se torna mais suportável. O amanhecer traz um ar de cheiro de café bem forte com torradas e muita manteiga. A vibração de alegria se aproxima da minha existência tentando provar que a vida ainda vale muito, sinto o canto dos anjos e a beleza de um dia cheio de energia. O levantar da cama é muito agradável. Abro a janela e vejo o sol entrar, invadir todo meu corpo, toda minha mente, o pensamento clareai e os sentimentos se acalmam. Ai, como é bom sentir calor até se cansar. Amo essa sensação de moleza no corpo e leveza na alma. Eu nasci para o sol!!!

Vanessa Ribeiro
Professora, dançarina, filósofa e filósofa clínica.*
 
    


sexta-feira, 24 de julho de 2015

O despertar...*

Nada, absolutamente nada vai me fazer retroceder o caminho que percorri, sofri, amei, briguei e muitas vezes chorei. Só penso em olhar para frente, ainda que com um aperto no centro do peito tenha vontade de parar. Nada, nada me fará desistir desse caminho de busca escolhido por mim, nem dores, nem desânimo, nem medos. Nada! Eu cheguei até aqui e ainda que eu morra de tanto chorar, curarei essa ferida aberta e purulenta que venho cultivando há tempos.
Chega de reclamar de meus tropeços, tenho o direito de tropeçar. Todos temos esse direito!!! Chega de tanta cobrança e autocrítica por uma vida linear, sem obstáculos, curvas, erros. Chega de querer ser a expectativa alheia para merecer migalha de algum sentimento.
Mas, nada, nada mesmo me fará voltar. Seguirei daqui, olharei vagamente para traz somente para admirar minha caminhada, sem críticas, sem menos ou mais. Luto, lutei e continuarei a lutar por minha vontade de ser feliz num mundo em que a felicidade parece impossível, utópica. A sensação que tenho é que as pessoas felizes, verdadeiramente, são tachadas de ignorantes! Quanto preconceito agendado em minha mente. A vida me fez assim e talvez eu tenha aceitado essa construção sem questionar.
Ignorância é não tentar buscar a felicidade, é ser uma vítima eterna do sofrimento que a existência por muitas vezes nos apresenta. Ninguém está imune ao sofrimento. Tristezas, angústias, dores existenciais são normais e saudáveis, mas a falta de felicidade é uma vida vivida pela metade.  Apesar de saber ou intuir que a completude não é dessa vida.
Sei que ainda terei muito medo, pararei para respirar e tentar perceber que apesar da imensidão do universo nunca estaremos totalmente desamparados. Eu já consigo enxergar, vagamente, um caminho a ser percorrido nessa nova fase da minha existência. Andei por tanto tempo imersa em mim mesma que o externo está mais vibrante, clareou. Precisei passar por muitas desconstruções, desagendei muitas crenças ultrapassadas para trazer mais de mim para meu centro existencial. Só agora, depois dessa imersão, posso compreender o porquê da necessidade de abrir caminho para a dor passar, e, passa!!! Aliás, tudo passa.
O sofrimento poderá ser uma fonte fecunda de aprendizado e de humanização. A sensibilidade com as circunstâncias ao redor fica mais ativa e viva. E já nem quero mais me livrar da minha sensibilidade, partindo do pressuposto, que sou também essa sensibilidade.
A sociedade, em geral, com raras exceções, ainda não está preparada para lidar com pessoas tão profundas no sentir e no expressar esse sentimento, não importa se o sentir é positivo ou negativo. O fato é que pouco se valoriza as questões da alma. Somente o que é visível aos olhos costuma ganhar um maior destaque, entretanto, sinto que alguns já perceberam que o sentido da vida não pode ser simplesmente viver por viver. Há uma intenção em cada vida existente, ainda que eu não saiba qual seja, tenho uma quase certeza de que o habitar nesse planeta não é um passeio sem encontros, desencontros, conflitos, indecisões, um mero acaso, é algo muito maior que nossa inteligência e raciocínio lógico ainda não são capazes de compreender em sua totalidade.
*Vanessa Ribeiro
Professora, dançarina, atriz e filósofa clínica...   

quinta-feira, 16 de julho de 2015

A noite em mim...*

Transformo minha dor em poesia, música e movimento. Sinto saudades de coisas ainda não vividas. Essa é minha vida!
Desencontros familiares me chegam dizendo que muitos dos meus, pessoas do meu sangue, são estrangeiros na minha estrada. Tão estranho ter e não ter pessoas verdadeiras e reais no convívio familiar. Buracos emocionais foram construídos dentro do meu ser, procuro explicação para tentar aliviar a dor. Mas, nem sempre teremos acesso a todas as explicações de nossa existência, pois a própria existência escorre pelos dedos da mão. Apesar de tudo, eu acredito na lua, acredito na noite perfumada e acredito no movimento para anestesiar os dramas do dia a dia.
Cada um sabe quais são os vãos de seu existir. Nunca devemos, ou deveríamos julgar atitudes do nosso irmão, mais ou menos próximo de nós. As feridas existenciais têm me mostrado o quão pequenos somos diante da imensidão da vida e do universo, seja o universo particular ou o universo em que estamos inseridos como seres humanos.
Buscar-se é tarefa complexa, entretanto, em muitos casos é a única forma de curar o universo particular desajustado de alguns. Se algo dói, paralisa os sentidos e impede a sua expressão, está na hora de olhar para dentro da casa coração e tentar perceber se há algo que se possa fazer para atenuar essa dor.
A vida é cheia de surpresas, agradáveis e desagradáveis, a noite é simplesmente o mistério de um novo amanhecer, uma nova surpresa, boa ou ruim. Mesmo sabendo de tudo isso, eu gosto da noite. Gosto de sentir a esperança de que o amanhã poderá ser melhor que o hoje, gosto de imaginar que em um "passe de mágica" acordarei mais feliz, mais viva, mais disposta a recomeçar.
A noite me faz criativa e mais ativa, meus pensamentos transbordam e se enchem de ideias, soluções que com o barulho do dia não havia tido acesso. Parece que a vibração da noite traz muitos "insigts" para os poetas e os profetas. Não tenho a pretensão de pertencer a nenhuma das duas categorias, porém, as maiores e mais nítidas ideias e inspirações me chegam numa noite quieta. Descobri que gosto do silêncio quando não quero interagir com o outro. Prefiro calar-me e sentir o ir e vir das ações cotidianas. O barulho da televisão ensurdece minha alma, procuro respirar e fugir desse barulho. Realmente a televisão tem se tornado cada vez mais inútil nesse meu processo de reconstrução!!! Nem filme me agrada no momento, estou mais amiga dos livros e das tintas das canetas. Se isso é bom ou não, não importa, é um processo muito particular.
Sinto falta daquela vaidade quase histérica com o meu cuidar de mim, entretanto, sinto que quando esse processo passar a histeria voltará com mais mansidão, sem pressa, sem tantos excessos. Sem culpas e cobranças externas. A seriedade ainda me acompanha, o sorriso ainda está apático, a esperança ainda está tímida mas a fé continua escondida num compartimento secreto do meu coração!
Por agora, nada mais para compartilhar. Só meu fascínio pela noite que nunca cessará.
*Vanessa Ribeiro
Professora, dançarina, filósofa, atriz                

domingo, 7 de junho de 2015

Procurando me encontrar...*


 A vida nos faz criar diversas expectativas em relação a nós e em relação aos outros, entretanto expectativas são apenas expectativas. O desnudar-se de si, o olhar profundo para o EU que habita em nós, pode trazer verdades nada agradáveis em relação às expectativas criadas por nós mesmos. Tenho sentido os abismos existenciais que há na relação entre meu EU e a expectativa que criei do OUTRO.
Nua tenho me sentido, a cada dor e a cada movimento de autoconhecimento, mas não estou lamentando minha historicidade, pois é a única coisa real que tenho. Lamento deparar-me com os aspectos mais obscuro da minha singularidade, embora saiba que temos dois lados lindos: o apolíneo e o dionisíaco. Uma polaridade não viveria sem a outra nesse mundo de dualidades e contradições. A dualidade presente a cada modo de pensar nos diversos papéis existenciais que somos obrigados a representar socialmente nos deixa escravos da opinião do outro. Assim é que me parece!!!
Entendo que nem tudo que parece para meu ser existente, parecerá para o outro. O universal não é confiável, sei que somos singulares, porém, acredito que muitas singularidades se identifiquem umas com as outras em vários aspectos. Talvez, seja esse um dos motivos pelos quais, ouso expressar em palavras escritas meu mundo particular. Se minhas palavras não forem úteis para agradar ou desagradar o leitor não teria muito sentido, no meu entender, compartilhá-las.
Meu olhar está sempre em busca de um entendimento do sentido real para o existir. Mesmo que não haja nenhum sentido real. O discurso da lógica delirante tem se apresentado como uma nova forma de reinterpretar minha visão cartesiana, diversas outras possibilidades aparecem diante de minha singularidade quando reflito sobre essa forma de expressão: a lógica delirante. Muito ainda preciso conhecer sobre essa lógica, que apesar de sempre ter habitado nosso convívio social, ainda não tinha sido conhecida de maneira tão clara para meu mundo.
Nua continuo caminhando para um encontro comigo. Enquanto caminho por essa estrada longa vou realizando minha vida da forma menos dolorida possível. Utilizo meus medicamentos para a alma. Danço a alegria, a tristeza, o amor e a dor. Movimento meu ser diante de mim e do outro. Leio compulsivamente tudo o que possa acrescentar esse encontro tão esperado. E, em fragmentos, vou reconstruindo minha verdadeira singularidade, que se perdeu ao longo de diversos agendamentos.
Nem sempre estou pronta para me defrontar no espelho, a nudez me assusta. Contudo tento continuar me despindo cada vez mais, para quem sabe, um dia, enxergar minha alma!!!
*Vanessa Ribeiro
Professora, dançarina, atriz e filósofa clínica 

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Perder-se...*

 Muitas vezes em nossos caminhos existenciais é preciso deixar perde-se para encontrar-se. Os desvios de caminho, num certo sentido, pode ser um caminho para o encontro com o outro que há em cada um de nós. A angústia de não saber para onde ir, em determinados momentos, é uma sensação de liberdade obrigatória!!! Perceber-se nesses momentos pode ser altamente produtivo para continuar no caminho da busca...
Talvez o descaminho seja o verdadeiro caminho para uma nova percepção de tudo que nos rodeia, principalmente, nossas sombras plurais. O medo de descontrolar-se e não ter a bússola para orientar-se é o que torna a caminhada mais significativa e interessante.
Somos controlados o tempo todo pelos relógios dos compromissos diários, vivemos quase que maquinalmente no cotidiano de nossas vidas. Será que seria esse o caminho? Ou talvez tenhamos deixado, por comodidade, conduzir-se pelas normas sociais? Somos pessoas ou indivíduos manipulados pelo excesso de informação?
Nesses momentos é que percebo a beleza que há naqueles que se distanciaram dessas normas sociais e são chamados de "loucos" por uma sociedade mecânica. Quem são os "loucos" afinal? Nós, os aprisionados na possível certeza de lucidez, ou os "loucos" que se libertaram de suas lúcidas certezas?
E, questionando, percebo que ainda há muito o que se entender da natureza humana. Rotular, agendar termos é mais fácil e seguro que investigar, e, de repente deparar-se com mais incertezas. Isso amedronta aos controlados e aos controladores!!!
São esses caminhos de busca inesgotável que move meu querer aprender mais e mais os motivos pelos quais estamos existindo. Talvez eu nunca consiga chegar a uma conclusão com certezas absolutas, mas as dúvidas movem o mundo e muitas descobertas fantásticas foram realizadas por aqueles que tentaram aproximar-se da verdade.
Afinal, a proposta dos grandes filósofos, desde a antiguidade, sempre foi essa perseguição, quase doentia, pela verdade. Será que a filosofia contemporânea ainda segue essa proposta? Será que não precisamos repensar, na atualidade, o que seja filosofia? Qual seria o papel do pensar filosófico, de forma efetiva, para as atuais questões existenciais?
Acredito que seja preciso rever alguns conceitos. O conceito de normalidade, por exemplo, é extremamente vago numa época em que descobre-se novas perspectivas de "bem viver". Nunca houve tanta informação sobre sexualidade, crenças religiosas e muitas outras questões em relação a ciência, tratamento para doenças incuráveis e inúmeras pesquisas trazendo possibilidades de curas para o corpo físico. Mas e as curas para corpo emocional?
Sim! Evoluímos, terapia para muitos, hoje em dia, não é mais sinônimo de loucura. Remédios psiquiátricos nunca foram tão bem tolerados pela sociedade como nesse século. Talvez até por causa dessa liberdade, muitos médicos, acreditam, que seja necessário a medicação sintética para evitar nossas dores emocionais. Eles também são bombardeados por inúmeras informações.
Evitar o sofrimento é uma tendência atual. É claro que existem casos onde o sofrimento transforma-se em doenças e o medicamento poderá ser um grande aliado. Mas, somente o medicamento sintético? E o conhecer-se a si mesmo?
Será que temos o direito de medicar os rotulados "loucos" sem que eles realmente queiram? Será que eles não deveriam ser questionados se querem permanecer no estado de liberdade ou devemos, realmente, medicá-los apenas sinteticamente? Acredito que muitos profissionais da saúde mental estejam em constante conflito quanto aos melhores tratamentos.
É mais seguro manter, esses seres dotados de sensibilidade, distante do olhar da sociedade. Muitos de nós, na verdade, temos medo de encarar as diferentes singularidades existentes. A necessidade de se identificar é quase que obrigatória. Os agendamentos do "ideal" robotizou nossos sentidos e nos deixou menos questionadores. A vida, cada vez mais exigente, nos rouba o direito do ócio criativo. Ficar atento, nesse momento existencial, poderá evitar nossos "surtos" por falta de extravasar essa necessidade de expressão que é essencial para tentar manter o equilíbrio diante de tantas informações sem profundidade. Precisamos, urgentemente de qualidade, para uma vida de sanidade mental!!!      
É... Continuarei me perdendo para talvez me encontrar!  






segunda-feira, 20 de abril de 2015

Acolhimento...*

Andei por caminhos muito particulares, descobri e revivi muitas dores, muitas alegrias. Enxerguei demasiadamente, adoeci, sofri e renasci. Isso tudo só pôde ser possível por causa do acolhimento que recebi...
Minha família, amigos, médicos, pessoas do coração, casas espirituais e terapeutas, alguns livros, música, palestras otimistas, trabalho e muito trabalho. Andei por caminhos torturantes, febris, medonhos, mas também resolvi praticar a caridade do auto acolhimento!!! Por vezes pensei que a caridade só seria útil se fosse por um outro, por um irmão que sofre, por alguém que menos tem, entretanto descobri a "sangue frio" que a maior caridade é a que permitimos nos dar, por que muitas vezes, somos o irmão que sofre, ou alguém que menos tem, emocionalmente falando, em caso particular.
Descobri a importância de um cuidar voltado para minha alma, sem ficar presa aos termos universais infindáveis como: "olhar para si mesmo é egoísmo". Egoísmo e orgulho é não acolher-se e esperar que um outro faça constantemente esse movimento por você. Para você, para alimentar seus mimos. Aprendi a pedir ajuda sem culpa, de coração aberto, consciente da minha incompletude enquanto ser humano, mostrei um pouco mais minha fragilidade sem perder a força de lutar contra tudo o que me feria emocionalmente. Sou humana, e a cada respirar, vou tomando uma consciência medonha dessa minha condição, do meu lado coragem e medo, alegria e tristeza, euforia e depressão. Desespero. Mansidão!!!
A melancolia faz parte de um pedacinho da minha alma, assim como a alegria. Tenho tentado encontrar um equilíbrio entre as duas, muitas vezes as doses ficam desiguais, mais melancolia e menos alegria, ou vice-versa.
O importante é que neste momento da minha vida estou acolhida por mim e por vários, desde o mais singelo pássaro a cantar até ao mais elevado amor vivente. A causa primaria de todas as coisas que é sinônimo de amor verdadeiro, sublime, me faz sentir tão acolhida que chego a transbordar e a viver um gozo similar ao que os Gregos chamavam de "eudaimonia".
Sou só gratidão!!! Viver e não ter crises é viver de ilusão. O autoconhecimento é doloroso, não vou mentir não, mas é libertador. Mestre Jesus tinha razão ao dizer que o conhecimento da verdade é libertação. A vida se torna leve, compreensível após um sofrimento, após uma revelação, porém, tenho meus medos, gostaria de aprender sem sofrer. Acho que até seja possível, entretanto só com um transbordar de sabedoria.
A todo momento nos deparamos com injustiças, perdas pessoais, frustrações... Como lidar com tudo isso sem sofrimento?
Como assistir aos noticiários com tantas desgraças sociais e dormir em paz? Como? Acredito que só com muita sabedoria que é filha da fé, seja possível viver com resignação.
Que todos sintam-se acolhidos no meu coração!!!          
Vanessa Ribeiro*
Professora, atriz, dançarina, filósofa clínica

terça-feira, 31 de março de 2015

Tudo passou...*


Realmente quando se diz que: "isso vai passar"!!! Pode acreditar. Tudo passa!!!
Por mais triste, pesado, cinza, doído, apertado, confuso que esteja o momento de dor, um dia, uma hora...  num instante a vida vai te surpreender.
Isso também passa!!!
Tudo ficou para lá, longe, num lugar distante, num lugar bonito e reconfortante, numa tarde triste de sol de fim de verão, perto do pico da montanha, num lugar imaginário, escondido, que nem quero lembrar mais.
Só de vez em quando sinto um aperto no peito como se o enorme sentimento de nada fosse invadir novamente minha alma e tragar-me para dentro de uma caixinha escura e vazia. Mas... Ilusão!!! Prefiro andar e dançar com os pés no chão. Aliás, preciso exercitar, todas as horas, permanecer aqui nesse lugar chamado mundo.
E quando, por um descuido, me lembro dos tristes dias, eu me sinto forte e sigo em frente sem dar nem uma pequena olhada para lá.
Não!!! Não olharei para o passado, só interessa o agora e o futuro... Entretanto, só uma vez por semana, numa sala segura e não muito iluminada, eu permito dar uma olhadinha para dentro da caixa, isso tudo como forma de medicamento para a alma.
Quando o corpo adoece é a alma gritando para ser cuidada e tratada... Ela implora por um pouco de atenção e carinho. Aí, paramos tudo e finalmente olhamos para ela.
Cuidar da alma é cuidar do corpo e do coração, foi difícil de chegar a essa conclusão, entretanto quando se chora lágrimas, que nem só suas são, a vida te joga para a realidade e negá-la seria ilusão.
A essência de felicidade que temos nunca se esgota. É interessante perceber, depois de uns meses de sofrimento, que toda aquela vida viva ainda está em ebulição. Tudo que parecia acabado não passa de uma miragem, de um vidro embaçado que de repente foi limpo.
A vida é um pouco estranha... Sempre acreditei em contos de fada, porém acho uma chatice a vida das princesas!!! Tão certinhas! Tão arrumadinhas. Eu não queria ter acreditado que ser princesa seria o ideal. Odeio a vida das princesas. Tão previsíveis... Que coisinha mas sem graça! Eca...
Se é para estar num conto de fadas que eu seja a bruxa então, malvada, livre das convenções!!! Amo a vida das feiticeiras. Muito mais interessante.
Eu acho que minha alma estava precisando dessa libertação, esse expurgo necessário para tornar-me quem realmente sou. Desagendar alguns personagens construídos durante anos, meses, dias, horas, segundos. Estou cansada só de pensar em quantas personagens que eu colecionei ao longo da vida. Será que só eu questiono isso? Será que isso é desnecessário? Será que autoconhecimento traz alegria? Mas, e as sombras?
Feias.
Dolorosas.
A única coisa que sei é que se há sombra deve haver luz e tanto uma quanto a outra fazem parte de uma mesma alma, a minha. Aceito-as de agora para sempre, com respeito e paciência, com perdão e mansidão. Não sou perfeição. Nem preciso ser. Somente quero continuar a dançar com os pés no chão e, se por outro descuido ferir meu pé, chorarei dignamente, mas não lamentarei ter deixado de dançar por medo de me machucar!
*Vanessa Ribeiro
Professora, atriz, dançarina e filósofa clínica.

domingo, 22 de março de 2015

Fases*


Estive escondida dentro de mim, num universo cheio de coisas perdidas!!!

Vi e percebi muitas coisas, entretanto várias dessas coisas não faziam algum sentido.
Encontrei lugares belos e outros medonhos. Tive muito medo de me afogar, mas me mantive firme.

Fiz uma enorme faxina existencial!!!
Sinto-me leve novamente, vibrante e feliz.

Sim! Sou otimista demais! Não posso negar minha natureza,
sinto a pureza das crianças, o barulho das gargalhadas descompromissadas...
Sinto, sinto e sinto muito por incomodar por meu sentir demais.

Exagerada no sentir, intensa no viver, colorida ao me expressar
Pequena na estatura mas enorme nos atos.

Quanto aos anseios me acalmo mais
O tempo de vivência traz muita tranquilidade!
Não sei certo o quanto mudei, porém, sei que muito se transformou aqui dentro do peito!
Morri e renasci várias vezes em pouco tempo...

Descobri que a coragem é mais sábia do que o medo,
ouso me arriscar para ser quem sou!
Correta, coerente? Não sei responder...
Sigo em paz!
A verdade é minha saga, que se inicie por mim, então.

*Vanessa Ribeiro
Professora, atriz, dançarina e filósofa clínica.




  





quinta-feira, 19 de março de 2015

Já consigo enxergar uma luz...*

Fiquei muito tempo naufragada no meu EU existencial, não sabia se era dia ou noite, na minha rotina robótica com pensamentos dos mais variados fui sobrevivendo entre a dor e a esperança de dias melhores. Cada noite era uma promessa de um novo amanhecer mais seguro, mais livre, mais meu. E nesse estado de alma me lancei na fé das mais diversas. Busquei amparo espiritual e, quase como uma beata, clamava cura a Deus. Meu refúgio mais sublime e profundo foi o amor e a acolhida que recebi. Sim!!! Tenho certeza de que o amor cura e alivia a dor, dando um norte para aquele que sofre. Por maior que fosse o sofrimento arrancava forças para mergulhar no meu trabalho que me dá muito prazer. Até minha paixão dominante “a dança” ficou em segundo plano. Não porque eu quisesse, mas porque percebi que não estava entregue o suficiente para desfrutá-la.
E agora que consigo enxergar um filete de sol, um brilho no fim do túnel, minha energia está sendo renovada. Minha fé está cada vez maior e a certeza de que cuidando do corpo, da mente e do meu espírito repousarei em verdes campos, de contentamento e mansidão. A paz começa a chegar bem de mansinho, invade cada uma das minhas células trazendo luz para meu interior, a vida vai se revelando novamente aos poucos e eu vou recuperando aquela alegria que pertence a minha real singularidade.
Tenho consciência de que tudo é muito delicado, precisarei de mais paciência para me recompor por inteiro. Entretanto, para quem esperou tanto tempo para ter a coragem de se desnudar e mergulhar na sombra para aprender a lidar com ela, o tempo é o que menos importa. Há muito tempo aqui dentro e também lá fora. Clareando cada sombra irei recuperando um pouco mais de mim. Os pedaços estilhaçados já não me assustam mais. A coragem e a confiança de estar bem acompanhada me faz querer reconstruir cada pedaço que sobrou. O que não sobrou joguei fora com muita lucidez, guardei muitas coisas desnecessárias no meu mais profundo interior. Minha faxina existencial está se dando por completo, não para me tornar outra pessoa, mas para fortalecer quem eu verdadeiramente sou.


Em momentos de crise se tivermos olhos de enxergar e ouvidos para ouvir descobriremos particularidades de nossa essência que nem imaginaríamos existir. Nas ruas de nossa caminhada existem curvas e desvios, nem sempre devemos seguir em linha reta. Muitos desvios poderão nos mostrar que nossas ideias não são tão complexas quanto imaginávamos. Que a vida pode ser muito mais do que sonhávamos e idealizávamos, basta esperar pelo raio de sol que em algum momento voltará a brilhar. 

Vanessa Ribeiro
Professora, atriz, dançarina e filósofa clínica

segunda-feira, 9 de março de 2015

Confiança...*

Há momentos de fragilidade de alma que a única alternativa para continuar caminhando é confiar. São nesses momentos que nos conectamos com o mais profundo que há em nosso "EU". Momentos de muitos desafios, dores por reconhecermos nossas sombras e hiatos de fé por um amanhã mais confortante. Se mantivermos nossos pés no chão da razão e nossos corações no divino que existe em nós, esses momentos poderão servir para um aprimoramento pessoal de grande valia. A reforma íntima tão pregada por muitas crenças se inicia a partir de nossas dores pessoais, entretanto, se faz necessário uma reflexão e um alargamento de consciência.
Eu, particularmente acredito, que nada, absolutamente nada nessa existência é por acaso! Acredito que uma dor tenha um significado tão importante quanto a lucidez de uma vida saudável. Se aprendermos a significar de forma imparcial os acontecimentos diários, conosco ou com um próximo, perceberemos que a própria vida com sua habilidade de ensinar nos esclarece muito.
Ainda que tudo pareça desconexo e sem sentido, como numa tarde cinza, sem sabor, sem aparente significado definido, pode ser que nas entrelinhas das ruas percorridas por nós, existam muitas cores camufladas e sentidos imperceptíveis num primeiro contato no mundo das sensações pessoais. É necessário ter coragem para tentar identificar as entrelinhas, mergulhar fundo em nosso universo infinitamente único, estar disposto a deixar-se quebrar internamente para que haja uma reconstrução integral.
E, nesse momento de entrega, a confiança se torna uma parceira indispensável. Não é fácil confiar. Algumas singularidades possuem muita dificuldade nesse processo de entrega total!!! Mas a esperança que é irmã da fé, talvez seja a única solução para muitos. Buscar ajuda para fortalecer essa esperança pode ser um caminho viável e muito rico que trará uma calma para a alma no processo de entrega.
Aos poucos, as cores vão começando a ressurgir diante de olhos antes nublados de dor, a vida vai sendo reconstruída a partir de uma lucidez de autoconhecimento profundo. O que antes havia sido despedaçado por tristezas emocionais, pode em muitas situações, revelar a verdadeira identidade de um caminho para a cura e para a luz.
Confiar é deixar fluir, não como num barco sem leme, mas um deixar fluir diante das decisões tomadas no dia-a-dia com reflexões e consciência de nossa imperfeição enquanto seres humanos! Nesse momento de entrega, a culpa e o medo devem ser extirpados da alma fragilizada, a meditação diária e o autorrespeito são ferramentas preciosas dentro dessa transformação pessoal!
Confiemos, pois!!!
*Vanessa Ribeiro
Professora, atriz, dançarina e filósofa clínica.

segunda-feira, 2 de março de 2015

Será preciso mesmo apagar a luz?*


Apagar a luz para melhor enxergar ou apagar a luz para não enxergar? Qual das duas alternativas serão mais compatíveis com o nosso papel existencial de autoconhecimento? Será preciso mesmo apagar a luz? O olhar para dentro deve ser distanciado do olhar para fora? Será que o entendimento da minha singularidade não reflete em como entenderei a singularidade do outro?

Essas questões estão inquietando minha alma há algum tempo. O estudo da filosofia clínica me fez entender que o que é bom ou suportável para minha singularidade pode não ser para a singularidade do outro. Mas, afinal, que outro? Ora, qualquer outro. Um partilhante, um amigo ou um amante. Talvez esse outro possa ser um familiar próximo, aquele que tento fazer com que seja àquilo que meu egoísmo acredita que seja melhor. Sim!!! Meu egoísmo. A vida não se apresenta da mesma forma para ninguém, somos singulares, graças a Deus. Minha experiência, vivência emocional, personalidade é singular e nunca plural por mais semelhanças que eu possa ter com outra singularidade. Isso é fato!!!

Então pode ser que, para “um outro”, seja de fato necessário apagar a luz para suportar "as dores e as delícias" da existência atual. Embora eu acredite que apagar a luz seja uma fuga momentânea, não tenho o direito de exigir que a luz seja acesa para ninguém. O meu direito termina onde começa o do outro. Essa célebre frase tem norteado minha existência... Muitos discordam e acreditam que poderiam, sim, retirar os véus da escuridão de “vários outros”. Mostrar ao outro que esses véus devam cair é muito delicado e requer muito cuidado, pois muitas vezes, o véu da escuridão pode ser a única esperança desse outro para suportar a existência. O universo particular de cada pessoa é tão sensível como o cristal, quebrável, e muitas vezes, impenetrável. Tentar agendar, qualquer que seja o termo, para o outro, requer um conhecimento prévio deste universo, muito bem pesquisado!!!

É preciso calma e sabedoria para viver e conviver com o outro, ainda que esse outro seja o seu outro "EU" que pode estar debaixo do véu da escuridão. Autoconhecimento é necessário, à medida que nos faz pessoas mais felizes e menos complicadas do ponto de vista existencial. E, claro, se quisermos, de fato, descomplicar nosso universo particular!!! Muitos afirmarão que é obvio que qualquer ser humano deseja ser feliz e viver de forma mais harmônica. Será? Devemos utilizar esse termo universal "qualquer ser humano"? E o que é felicidade? A interpretação da felicidade e de seu conceito varia, da mesma forma que varia a singularidade de cada ser humano. Não existe receita para a felicidade e para o bem viver, o que existem são tentativas pessoais e singulares.

Dentro de meu conhecimento de filosofia clínica, que ainda é muito pequeno, penso que cautela e respeito são fundamentais para qualquer filósofo clínico. Na verdade esses dois elementos facilitam muito a vivência e a convivência consigo e com o outro. Tenho vivido experiências maravilhosas com alguns adolescentes que são meus alunos, e por afinidade, tenho tido a oportunidade de estreitar minha relação com tais alunos. Sair do pedestal de professora e aproximar-me de meus alunos como apenas um ser humano é uma experiência incrível e apaixonante. Como aprendo com eles!!! A filosofia clínica se faz presente nesse momento de aproximação entre minha singularidade e a singularidade de cada aluno que se aproxima. E assim, vou caminhando e tentando perceber se devo ou não apagar ou acender a luz!

*Vanessa Ribeiro
Professora, atriz, dançarina e filósofa clínica.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

A Filosofia Clínica na minha vida...*

Andei questionando que papel o estudo da filosofia clínica tem cumprido em minha vida e cheguei a inúmeras conclusões. Sou habilitada para a pesquisa dentro da filosofia clínica pois ainda não conclui meu pré-estágio terapêutico. Aliás, não tenho pressa em continuar, tendo em vista, os ganhos que tive com esse estudo.

A filosofia clínica abriu meu conhecimento de mim mesma. E creio que esse deva ser o primeiro passo para as pessoas que pretendem atender outras pessoas. Antes da filosofia clínica em minha vida eu escrevia e simplesmente detestava tudo o que escrevia. Mas, sempre gostei de me expressar pela escrita. Meu professor e filósofo clínico Hélio percebeu isso, essa minha singularidade. Eu não só fui incentivada por esse mestre-amigo, mas também, fui descoberta como um ser que necessita expurgar pela escrita as dúvidas da existência e as dores de existir.

Desagendei muito durante meu processo. Cresci como ser humano, me desnudei de complexos e recatos. Sou mais coerente comigo mesma. Descobri que sou expressão pura e profundamente reflexiva e questionadora. Hoje eu consigo aceitar um pouco melhor minha singularidade, percebo que não há tanta necessidade de me identificar, porque descobri que nenhum ser é igual a outro.

A coisa mais linda dessa abordagem terapêutica é a questão da importância da singularidade. Sim!!! Não podemos tratar uma pessoa com pré-juízos. Não existe classificação. Somos únicos. Isso é lindo demais!!! E, se somos únicos, não deveríamos julgar tanto como o outro se apresenta dentro dos inúmeros papéis existenciais que a vida o apresenta. Digo não deveríamos pois ainda exercito essa "suspensão de juízo" tão presente na história da filosofia antiga.

O processo autogênico que o estudo da filosofia clínica cumpre em minha existência, é por si só, capaz de responder o porquê de estudar tanto essa abordagem terapêutica. O "ser-terapeuta" é apenas um detalhe para a vida do filósofo clínico. Claro que é um detalhe muito importante e necessário. Entretanto não é o que há de maior valia na filosofia clínica. O método é muito bem estruturado, cada detalhe dos exames categoriais deve ser muito bem pesquisado. Por isso é muito importante fazer terapia antes de ser um terapeuta. Somente alargando o pensamento a respeito de mim mesma poderei ter um olhar mais humano e humilde para a historicidade do outro.

Quem tem o dom de cuidar, certamente, se identificará com a filosofia clínica. Cuidar não é simplesmente escutar e aplicar o método desenvolvido por Lúcio Packter, é muito mais que tudo isso. Cuidar é amar a vida do outro tendo consciência de que grande parte das pessoas que procura um profissional terapeuta está em processo de crise, sofrimento! Sem essa consciência não haverá êxito no processo de terapia com essa abordagem tão singular.

É necessário muita cautela antes de um filósofo clínico iniciar o papel de terapeuta. É necessário muito amor, carinho e dedicação! Temos que nos conscientizar que isso não é uma tarefa assim tão simples. Para muitos, até pode ser simples, entretanto, para outros o "ser-terapeuta" pode ser muito perigoso.

Hoje consigo entender as palavras do professor Hélio Strassburger ao dizer que é um "homem do mundo". O ser-terapeuta é quase um sacerdócio! Uma renúncia de parte de si para a partilha com o outro. Creio que só com esse pensamento poderemos um dia desempenhar papel tão significativo que é o de terapeuta filosófico.

*Vanessa Ribeiro
Professora, atriz, dançarina e filósofa clínica.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

O poder das palavras...*

Existem palavras caras, outras baratas, outras bonitas e outras sem graça. A palavra "graça" não tem a menor graça! É vazia, fria, triste... Já a palavra "triste" é pomposa,
forte, elegante, robusta! Sinto até vontade de falar... Oh! Que triste dia...

A palavra "alegria" em compensação traz muita satisfação, não sei se pela pronúncia ou por sua vibração. O que sei, que no campo do saber é quase nada, são que existem palavras que são mais belas e sofisticadas que outras e que por isso costumam ser expressadas.

Entretanto, eu procuro me certificar de todas as palavras utilizadas por mim, pois um simples "oi" pode ter vários significados.

E, como significamos as coisas!!!

Percebo que uma mesma palavra proferida por mim pode ter um significado totalmente invertido ou truncado para um outro...
Amo muito todas as palavras, são elas que preenchem meu vazio quando nada mais vale por perto.
Eu escrevo e relaxo...

É muito bom poder expressar sentimentos confusos através da escrita, lendo mais tarde àquilo que escrevemos perceberemos onde estavam nossos pensamentos. Muitas vezes percebo que os meus estavam em longo deslocamento.

E quantos termos desagendo do meu intelecto apenas escrevendo? São tantos quantas são as palavras existentes para expressar minha gratidão!

E, viva as palavras! Pois primeiro se fez o verbo...

Brindemos, então, a possibilidade da expressão! Viva!!!

*Vanessa Ribeiro
Professora, atriz, dançarina e filósofa clínica.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Dançar para fluir no mundo*

Voltei para casa ontem à noite e durante a noite fria questionava o porquê da dança na minha vida. Descobri que cada vez que eu me movimento e sinto a energia de cada alongamento para preparar-me para a aula de dança vou despertando minhas células para a vida. Me sinto vibrante e viva quando danço!
Talvez eu nem consiga mais parar de dançar nessa existência, vício que tanto me ilumina a alma! Gratidão por esse encontro tão profundo com o movimento. Minha intersecção com a dança tem sido muito construtiva e reveladoramente positiva.

Andando pela cidade percebi a beleza de poder expressar felicidade pelo suor do movimento coreografado! Marcado! Preciso! Muitas vezes repetidos e ensaiados! Quase parece improvisado, mas não! Muita transpiração para aproximar-me da perfeição.

De repente, percebi que estava perto de casa e olhei para alguns rostos ao redor. Observei que tantas são as questões que nem mesmo se minha bola de cristal não estivesse quebrado não conseguiria, de fato, desvendar cada expressão daqueles rostos passantes.

Imagino que cada ser deva ter, ainda que escondida, uma paixão. Eu só imagino.

Ideias complexas começam a me rodear, pois sem paixão não consigo nem pensar. Apática nem vejo a cor da vida. Mas isso é como o mundo me parece. Será que posso imaginar que o parecer de mundo dentro da minha representação é semelhante para todos os seres viventes? Será que existe, de fato, singularidades na representação de mundo para cada ser humano, tanto quanto a quantidade representações existentes? Ou será que bem de perto somos todos muito parecidos? Existe tanta diferença na minha alegria ou na minha dor quanto a de uma irmã que vive do outro lado do mundo? O que me separa de alguém? O que me faz ser tão humana quanto qualquer ser humano, ainda que num caminho que eu considere errante? Será que existe um manual de certezas?

Bem, são apenas divagações. Mas eu acredito fortemente que só quem experimenta o movimento de qualquer forma de expressão pode sentir a beleza dos desbloqueios que somatizamos durante anos na existência nesse louco planeta chamado Terra.
E viva a dança!!!
*Vanessa Ribeiro
Professora, atriz, dançarina e filósofa clínica.
Petrópolis/RJ

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Melancolia!*


Há uma melancolia salutar no meu ser. Não a destrutiva que deprime e oprime, mas aquela reflexiva, da sensibilidade de quem sente compaixão pelo outro, pela dor do outro e identifica a fragilidade nas pequenas expressões diárias, nos gestos mais comuns e minuciosos.

Essa melancolia arranca pequenas lágrimas dos meus olhos, seja na mais profunda sensação de vazio ou de completude! Sinto a cada dia que não preciso mais mascarar-me para melhor ser percebida e compreendida, pois, por mais que eu sinta, por causa do meu ego, que queira agradar multidões, jamais agradarei. Isso me faz tão bem!!! Na verdade não tenho mais a necessidade de agradar a ninguém, nem a mim mesmo.

A obrigação do sorriso diário saiu da minha representação de mundo... Vivo melhor e cada vez mais transparente nesse mundo de teres e poucos saberes. Daqui para frente pretendo SER a cada palavra proferida, a cada gesto expressado, a cada movimento dançado!

É justamente essa melancolia que traz para mim os questionamentos e as mais profundas reflexões. Sim! Sem sofrimento! Só pequena melancolia...

Sou mais mulher e menos moça sonhadora a cada deslocamento, longo ou curto. E, por mais estranho que possa parecer, estou mais feliz assim. Concretizar também faz parte do meu processo, sem histórias de princesas encantadas, moças salvas por um príncipe. Sou muito mais guerreira hoje. Estou mais feiticeira, faceira e dona dos meus caminhos! Sem rumo, entretanto, com minha bússola interna ativada, viva!

Se quero partir, simplesmente parto, não olho mais para trás. Tudo o que passou já não é mais. Eu vivo cada vez mais o agora, o hoje, o aqui. E o futuro???

Não tenho pensado no futuro porque sei que é resultado do plantio do hoje... Simples e descomplicada, sinto-me no momento. Vivo em constante mudança!!! Amo o movimento transformador, descobridor dos meus segredos íntimos que se revelam claramente para meu verdadeiro EU.

E assim sendo e vivendo procuro suspender cada vez mais o juízo e observo o mundo ao redor. Sinto o cheiro e o vento da noite estrelada. Durmo o sono daquela que merece repousar com os anjos e os querubins, acordo purificada, iluminada, disposta a continuar aprendendo a vida a partir do outro e para representar-me pelo outro e junto do outro.

Aprendi, nessa minha longa pequena caminhada, que todos nós, seres humanos, dependemos de nós e do outro para construir o mundo particular, singular... E isso não é palavra, nem grande constatação, é expansão de consciência, é busca, é luta para compreender essa engrenagem confusa e muitas vezes sem a menor lógica chamada: vida.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Expressão!*

Livre movimento do corpo em ação guiado por várias emoções... Contração, expansão, vida ativa em reação ao belo e para o belo no seu mais sublime conceito. Respiração ativa e sensações à flor da pele.
Bum! Grande sentimento que se encontra através de uma catarse daquele que vive por amor a arte. 

Maravilhas, sofrimentos, descontentamentos, solidão, percepção a cada deslocamento, longo ou curto!
Permitir-se!

Solução para uma melhor compreensão de si e do todo! Vida voando com o coração pulsante e inquieto para melhor decifrar tamanho sentido de todas as coisas sensíveis e metafísicas. Explicações??? Não! Não temos essa intenção...

Queremos arte para suportar a existência nua, vazia, brutal. Sem arte não conseguiremos seguir a diante. Tudo se torna meio bege, sem tom. E a canção poderá ser uma grande fonte de inspiração para muita piração consciente e equilibrada!

Palavras, as guardo no coração. Só o ato de expressar poderá satisfazer tamanha confusão de sentidos sem significados definidos.

Poesia? Também não. Apenas vontade de somente ser nesse mundo cheio de ter. Ideias muito complexas pairam na mente de quem vive por amor ao ato de se mostrar, se desnudar. Transparência nos contornos dos movimentos improvisados. Vida. Paixão. Luz. Ilusão!!!

Desejos escondidos na alma vão se esvaindo em tamanha transpiração... Tentação, vontade, necessidade, verdade.

A vida que escolhi e colhi até então!!! Será preciso mudar o curso do rio? Ou viver nesse universo particular é mais belo que as questões conflitantes e perturbadoras da minha alma? 

Sei não! Por enquanto é o que tenho, esse castelo eu mesma construí em pedras firmes e no chão da casa do meu espírito criativo.
Vulcão quase em ebulição!

Eu sou esse vulcão, mas meus segredos? Não conto, não.

*Vanessa Ribeiro 
Professora, atriz, dançarina e filosofa clínica. 
Petrópolis/RJ

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Humana, simplesmente humana...*


Sinto, sinto muito mesmo, mas sou demasiadamente humana. Sei que Nietzsche compreenderia, mas eu não consigo compreender tamanha fraqueza que há na minha porção humana.
Apesar das buscas incessantes, apesar das compreensões espirituais, apesar dos pesares da dor alheia ainda sou humana demais. 
Medos e sombras torturam meu ser consumindo o pouco de espiritual que há em mim, impotência diante de questões que parecem tão simples, entretanto para uma alma arredia como a minha se tornam monstros na escuridão da minha caminhada solitária e livre.
Ah! Livre arbítrio! Por que não ser conduzida por um destino traçado onde minhas escolhas façam algum sentido? Por que tamanha liberdade de escolha? Eu queria ser perfeita, juro, mas não sou, nem chego perto... 
Uma encruzilhada percorre minha mente e eu alucino e entorpeço por não saber por onde seguir. Dores de alma e de consciência pesam nos meus ombros que tentam desesperadamente carregar o mundo que me rodeia. Quanta pretensão a minha!!!
Controlar?

Ninguém controla nada. 
E a luz que ainda brilha escondida por trás das minhas entranhas teima em aparecer. Entretanto resisto e torturo um pouco mais minha alma sedenta de paz.
As lágrimas tendem a descer para que eu me sinta mais humana e imperfeita. Como ainda sou profana!
No jogo louco da vida, sensações escorrem por meus poros, trazendo sempre à memória o tamanho da minha pequenez nessa vida tão breve. Tento seguir os ensinamentos dos grandes mestres, mas, me deparo com minhas sombras de culpa e medo. Sintomas de fracasso diante da tão procurada virtude, aclamada e exaltada por grandes filósofos ilustres, sobressaem. 
Talvez, somente Nietzsche, tenha razão.  
Eu preciso de paz, preciso de mais, mais amor próprio, mais perdão por mim e por todos, mais aceitação dessa singularidade tão complexa que se apresenta a cada minuto para mim. Nua e crua.
Aceitação! Eis a grande questão. Eu sempre perdendo o caminho e buscando alguma identificação. Pois identificar-se com um alguém que parece ser mais evoluído é menos doloroso do que enxergar todas as mazelas que uma alma humana, demasiadamente humana, possui. E me perco na esperança de um dia tornar a me encontrar em algum beco, alguma rua, ainda que sombria, simplesmente me encontrar. E aí lembro-me de uma canção, peço ao Pai proteção, junto todas as minhas crenças pessoais para ancorar meu coração sequioso de mansidão. E cada vez mais sedenta vou caminhando em direção de mais um questionamento. 
Penso nas mulheres oprimidas por suas crenças religiosas e me identifico com um agendamento que me foi incutido ainda muito menina. "Olha! Deus castiga!"
Isso! É preciso ser uma boa menina. 
Uma moça correta!
Uma pessoa caridosa e feliz. Assim é que deve ser!
Eis que a menina cresce e descobre que nem sempre será uma boa menina, percebe sua perversidade e se assusta. 
Não, não, não!!! É preciso ser boa e caridosa, e ainda feliz.
O mundo desaba então!
O sofrimento da verdadeira realidade invade sua essência e ela não se adapta ao padrão agendado. Surge, então, as mais diversas perturbações existenciais. Depressão, medo, culpa, neuroses, viroses emocionais das mais diversas. Ela se sente inadequada. 
Muito perdida!!! Então ela dança para não pensar que é tão diferente de tudo o que foi projetado para ela. 
Distrai seu pensamento trabalhando ferozmente e mente para si. Sim, a menina-mulher mente. 
Profana, é o que ela é! 
Só as vezes, muito raramente, ela encontra sua lucidez e reflete sobre sua fraqueza. E, ainda raramente, aceita com delicadeza cada uma de suas imperfeições. Nesses momentos ela transborda e escreve, compartilha, desnuda-se para o mundo que a cerca! 

Finalmente, inspira e expira aliviadamente!!!

*Vanessa Ribeiro 
Professora, atriz, dançarina e filosofa clínica. 
Petrópolis/RJ

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Mulher: Substantivo feminino...*

Nem sempre contente com a realização de um grande dia, muito inconstante e dores diferentes. 
De repente o peito aperta e então ela pensa se é por causa dos hormônios ou do inchaço da última menstruação!
Chega a diversas conclusões sem solução, aí, eis que lágrimas correm desassossegadas por sua face e ela escreve e escreve sem parar como numa neurose incansável. Ela sabe que já é madrugada e que deveria ter lido um pouco antes de dormir, surgem culpas e pensamentos desordenados enquanto ela está cansada de ter que arrumar tempo para viver uma vida contemporânea. Estar arrumada, trabalhar, namorar, 
ser bonita a todo momento, gentil e afetuosa... 
Porém,
Soa um grito de dor! Porta do quarto fechada e o coração sufocado de tanto representar a "mulher ideal", perfeita sem uma gota de insatisfação! Não, não mesmo! Não foi por isso que ela lutou séculos e séculos. Ela só pretendia ser uma pessoa, entendam, uma pessoa como outra qualquer... Era só! Mas aí vieram os silicones, as revistas cheias de perfeitas mulheres e detalhe: Todas felizes! Ela não suportou tamanha pressão social e criou um casulo só seu, inacessível, trancado. 
Entretanto, vez por outra, ela dança e aí surge alma nessa pessoa que queria ser e ela percebe que a dança também se tornou uma grande aliada, uma obsessão!!! Mas quando movimenta o corpo a alma é elevada a nível tão profundo que nem a droga mais poderosa do momento seria capaz de lhe dar tamanho prazer. 
Sua vida se torna poesia e o inchaço já nem incomoda tanto, as dores musculares são recompensadas pelo ganho do movimento esperado. Sua filosofia, outra paixão, pode esperar até o dia seguinte, o livro não vai sair do lugar e então, realizada, as leituras terão outro tom, outro sabor, outro saber. 
E uma coisa eu garanto, sexo frágil ela não é não! Essa época já se foi! Ela sabe bem o que quer. Conquistou o mundo e pretende dominá-lo, seduzi-lo com movimentos no corpo, no cérebro, na alma e no coração! Sim! Mulher, eu sou e amo muito esse estado de ser. 

*Vanessa Ribeiro 

Professora, atriz, dançarina e filosofa clínica. 
Petrópolis/RJ